Luis Fernando Veríssimo (1936-2025)

Nota breve sobre Luis Fernando Veríssimo. Escritor (mais detalhes na Wikipedia),  muito presente na minha formação. Nunca fui um leitor voraz de literatura. Minha atenção ao “real”, me traz uma predileção por biografias, e gêneros mais próximos, como contos, relatos e o supra-sumo de Veríssimo, as crônicas.

Isso se deve muito pelo fato de na minha infância e adolescência viver em uma casa com uma assinatura de “O Estado de São Paulo”, o Estadão. Na época ele tinha coisa de mais de 50 páginas por edição, pesado, tipografia pequena, sem muitas fotografias e diagramas (estes últimos que marcavam a editoração da “Folha de São Paulo”, seu principal concorrente). Jornal da direita, mas que na minha cabeça da época, faltava vivência para notar o que isso implicava no contexto socioeconômico/histórico do Brasil e da minha família.

Mesmo assim, LFV, escrevia no diário da família Mesquita, apesar de seu pai, o escritor Érico Veríssimo, ter tido seus percalços no Estado Novo de Getúlio Vargas. As crônicas, “Família Brasil” e “As Cobras” que tanto li (e hoje ainda são acessíveis no acervo do Estadão, completamente digitalizado e gratuito.

Luis Fernando Verissimo, em reportagem do Estado de São Paulo em 06 de fevereiro de 1999.

Luis Fernando Verissimo, em reportagem do Estado de São Paulo em 06 de fevereiro de 1999.

Um outro lado de Veríssimo é mais importante na minha vida. Tal como o pai, Érico Veríssimo, que escreveu a saga “O Tempo e o Vento” — o romance mais importante já feito por um escritor gaúcho, e talvez um dos mais importantes na literatura brasileira — Veríssimo (filho) escreveu sobre um outro lado do Rio Grande do Sul pelo personagem do “Analista de Bagé“. Personagem que hoje soaria polêmico, por conta de uma visão do autor sobre um crônico machismo endêmico no interior do Rio Grande do Sul, ele trata de coisas mais difusas de aspectos culturais da mesma região. Como alguém que cresceu em uma família com uma mãe gaúcha, e que de tempos em tempos viajávamos de São Paulo para lá, era como se houvesse alguém que traduzisse certas cenas e situações cotidianas, que pareciam um tanto distantes da minha realidade, um humor, uma forma de encarar o mundo e as pessoas, para uma forma que entendia. Posso dizer que Veríssimo fez um bocado por um certo “Gauchismo 101” que me formou, e me causa amor à região até hoje.

Para fechar, em 2005 era estudante de intercâmbio da Unicamp na Universidad Nacional de La Plata, e tive a oportunidade de conhecer Veríssimo (em uma mesa com Paulo Lins). Foi daqueles encontros em que seu ídolo não decepciona (já vivi o outro lado, por azar ou ingenuidade), e garanto que é a única foto que vi do Veríssimo sorrindo.

Eu e Luis Fernando Veríssimo, Feira do Livro de Buenos Aires (Abril, 2005)

Luis Fernando Veríssimo (e um jovem Ricardo), Feira do Livro de Buenos Aires (Abril, 2005)

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