This text is a product of the discussions and reflections carried out in PORT145 – Portuguese for the Professions – Intensive Business Portuguese.
A cultura de trabalho dos países é talvez um dos aspectos sociais mais interessantes
de se estudar e analisar, independentemente da abordagem que se adote: econômica,
sociológica, filosófica ou estrutural. Na aula discutimos muitas vezes as diferenças entre a
cultura empresarial e de trabalho no Brasil e nos Estados Unidos. Para minha surpresa,
essas diferenças são muito semelhantes às diferenças entre a Venezuela (antes da crise) e
os Estados Unidos. O que mais me impressionou, e o foco deste ensaio, foi a importância
dada à flexibilidade e à mobilidade laboral dentro destes mercados, e como a política e
ideologia empresarial do país se reflete nos níveis de desemprego. Mais interessante do
que entender o desemprego como uma variável exógena dentro de um estruturalismo
capitalista, gostaria de explorar este elemento econômico como uma variável endógena
que deve suas variações a múltiplos fatores. A partir de um número ou variável,
poderemos então deslumbrar algumas distinções entre as culturas laborais do Brasil e dos
Estados Unidos.
O nível de desemprego em um país, não importa qual teoria econômica você siga,
neoclássica ou keynesiana, sempre dirá algo sobre a saúde e o desempenho da economia
naquela época e historicamente. Os Estados Unidos, como discutimos na aula, tenta
modelar um mercado de trabalho flexível onde o desemprego, ou emprego, seja fácil e
eficiente. Sem nos aprofundarmos muito na teoria econômica, sabemos que tal estrutura
do mercado de trabalho se deve à crença ou ao alto respeito por um sistema flexível e
adaptável. No Brasil, a demissão de funcionários também é uma prática que existe; seria
um erro pensar que a prática ruim do desemprego é algo que só o País do Norte pratica.
Agora, é verdade que legalmente, e mesmo culturalmente, o Brasil não estima a alta
flexibilidade laboral nos níveis dos Estados Unidos, já que o Gigante do Sul tem
historicamente implementado e exercido práticas mais intervencionistas e de proteção ao
trabalhador, particularmente durante o governo do ex–presidente Lula. Assim, podemos
ver a primeira grande diferença entre as culturas trabalhistas desses países: a prática, ou
idealização dependendo de como se analisa, do mercado e de suas forças é maior nos
Estados Unidos do que no Brasil.
Entretanto, precisamos desenvolver, por mais simples que seja, uma comparação
estatística dos níveis de desemprego em ambos os países a fim de evitar afirmações baseadas em argumentos sociológicos ou, até certo ponto, subjetivos: em 2020, tanto os EUA quanto o Brasil tiveram os mais altos níveis de desemprego
de sua história moderna. Curiosamente, ambos compartilharam níveis de desemprego
bastante similares: o Brasil entre 14,7%–14,9% e os EUA entre 14,4%–14,9%. Agora o leitor
pode afirmar que esses níveis semelhantes de desemprego são provas de que tanto o
Brasil quanto os EUA despedem pessoas no mesmo ritmo. No entanto, isto não é verdade.
No Brasil, o aumento do nível de desemprego entre os períodos pré–COVID e COVID é
de 20,16%, e nos Estados Unidos é de 320%. Ao mesmo tempo, os níveis de desemprego
durante e pós–COVID são de –25,16% para o Brasil e –75,5% para os EUA. Finalmente, a
inclinação da curva de desemprego nos EUA durante esses períodos, tanto em períodos
de contração como de expansão, é maior (em valores absolutos) do que no Brasil.
O que os números parecem sugerir é que os EUA têm um mercado de trabalho
extremamente flexível em comparação ao mercado de trabalho brasileiro. Apesar de ter
quase 20 vezes o PIB do Brasil, os EUA tiveram níveis de desemprego tão altos quanto os
do Brasil, demonstrando a facilidade com que os empregadores americanos podem
despedir seus trabalhadores. No entanto, os EUA também se recuperaram muito mais
rapidamente do que Brasil, retornando aos níveis pré–pandêmicos de desemprego. Além
disso, as flutuações cíclicas no mercado de trabalho brasileiro são significativamente
menos drásticas do que as dos EUA (com base na amostra selecionada para este pequeno
estudo).
Esta comparação analítica dos níveis de desemprego no Brasil e nos Estados
Unidos nos permite chegar a uma conclusão que engloba tanto evidências quantitativas
quanto qualitativas. O desemprego, sendo tomado como uma variável endógena, serve
como evidência para identificar com precisão o que talvez seja a maior diferença na
cultura trabalhista do Brasil e dos Estados Unidos: o dinamismo do mercado de trabalho.
O dinamismo do mercado de trabalho não é mais que uma formalidade literária
para o que já analisamos e identificamos como níveis de desemprego, e a reação do
mercado às crises e mudanças na economia ao longo da história. Tendo identificado esta
variável como o eixo diferencial entre estas duas culturas de trabalho, e tendo negado a
simplicidade de uma variável exógena, podemos agora interpretar as muitas outras diferenças entre estas duas culturas de trabalho como reações ou complementos a ela.
Por exemplo, leis no Brasil que dificultam o desemprego e/ou o emprego de
trabalhadores afetam o dinamismo do mercado de trabalho, e vice versa com os EUA. O
curto horário de almoço e o longo horário de trabalho nos EUA causam um medo ao
desemprego devido à facilidade com que os empregadores podem substituir seus
empregados. A flexibilidade do mercado nos EUA também dá origem à flexibilidade
contratual, e o contrário, relativamente falando, no Brasil.
Podemos concluir então que, embora as culturas de trabalho brasileira e americana
tenham múltiplas distinções que valem a pena mencionar e investigar, a mais importante,
devido à sua relação intrínseca com todas as características do mercado, é o dinamismo
do mercado de trabalho refletido nas flutuações e níveis de desemprego ao longo da
história de ambos os países.
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173–pesquisa–nacional–por–
amostra–de–domicilios–continua–trimestral.html?=&t=series–
historicas&utm_source=landing&utm_medium=explica&utm_campaign=desemprego
Gabriel Reyes Esclasans
Meu nome é Gabriel Reyes, um aluno do segundo ano da Universidade de Chicago que estuda Economia, Ciência de Dados e Português. Sou apaixonado pelo desenvolvimento econômico, pela América Latina e pela implementação de políticas públicas. Nasci e fui criado na Venezuela e meu sonho é trabalhar com o Banco Mundial no departamento de desenvolvimento econômico para a região latino-americana.