Revista Væranda

Quando se fala de música brasileira, os gêneros como Bossa Nova e Samba são comumente mencionados. E com justa razão, eles e outros gêneros musicais mudaram a cultura brasileira, virando ela à cultura colorida, feliz e animada que o mundo conhece. Apesar disso, se vocês escutarem qualquer música no topo das listas no Spotify ou Apple Music, as músicas são completamente diferentes. Ritmos escuros, percussão pesada, letra vulgar e um sem fim de “MC’s”. Você está escutando “funk carioca”. Mas o que é o funk carioca, e por que é tão popular no Brasil? 

Na década dos 50, o mundo estava se transformando. Depois do massacre e sofrimento que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, o mundo urgentemente precisava de mudanças. A nova geração, nascida depois da guerra, fez múltiplos movimentos para promover os direitos de todos. Protestos pelos direitos das mulheres, os gays, os estudantes, para cuidar do meio ambiente, anti-guerra, e mais relevante para o tema, o Movimento de Direitos Civis nos Estados Unidos. Depois de décadas vivendo como cidadãos de segunda, os negros demandavam ter os mesmos diretos do que os brancos. O movimento promovia a livre expressão de todos os negros, que veio com uma mudança de cultura também. Os negros fizeram novos gêneros musicais, entre eles o “Soul”, “black” e “funk”.

Depois que o movimento ganhou popularidade, outros países tentaram fazer o mesmo, entre eles o Brasil. No Brasil, os bairros chamados “favelas” já tinham sido zonas para os negros ou os pobres viverem. As favelas eram a simbolização de tudo de ruim da desigualdade no Brasil: estavam cheias de crime, violência, drogas, sem desenvolvimento algum, ou qualquer tipo de apoio governamental. Os habitantes das favelas adotaram o movimento mundial e começaram a expressar a cultura deles com música. O primeiro e mais importante foi o “funk”. Músicos como os DJs Big Boy ou Ademir Lemos foram dos primeiros em inovar o estilo funk, com músicas inspiradas pelo funk americano. As músicas e a letra falavam das dificuldades de morar nas favelas, a discriminação que viviam no país, e pedir igualdade para todos. Uma maneira de notificar para o resto do Brasil o que acontecia tão perto dos bairros dos outros.

Mas o funk daquela época era muito diferente do que se escuta agora, com ritmo mais alegre e mais instrumentação. Isso ocorre porque, na verdade, o funk carioca hoje em dia não tem muita semelhança com o funk americano. Nos anos 80, o movimento musical “Miami Bass” foi o que realmente mudou o funk brasileiro, mas o nome “funk” permaneceu. Do Miami Bass vieram as fortes percussões, as letras vulgares e o ritmo dançável. O DJ mais importante dessa mudança foi o DJ Marlboro, que transformou o funk completamente e fez dele o que escutamos hoje em dia. Músicas como “Glamourosa” ou “Rap da Felicidade” ainda falavam da cultura do funk e dava uma ideia da vida nas favelas.

O funk mudou com o tempo e fez sua própria identidade. Um exemplo disso é o funk “proibidão”, onde se falava de tráfico de drogas, crime e rivalidade entre diferentes cantores de funk. Muitas das rivalidades eram apenas musicais, mas a conexão com as favelas e o crime organizado tornava impossível que coexistissem em paz. Isso fez que hoje o funk seja sinônimo de vulgaridade, sexualização das mulheres, crime, consumo de drogas e muito mais.

Artistas como Anitta, MC Kevinho, e outros  fizeram o funk popular não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Agora, o funk é um dos gêneros musicais mais reconhecíveis, com a explosão de músicas como “Tubarão vai te pegar” ou “Parado no Bailão” nas redes sociais. 

O funk carioca com certeza não é para todos. Embora tenha uma história muito importante de expressão de povos marginalizados e liberdade, é certo que a letra e os temas do funk não são para toda a audiência. Mas o certo é que quando o funk aparece na festa ou na sua seu playlist, é impossível não dançar.

Sebastian Castañeda

Sebastian Castañeda

Sebastian is a first-year studying Computational Applied Math, Business Economics and Portuguese. He is from Mexico City, and his interest in Portuguese comes from his love for all latino culture. He enjoys listening to music, going to the gym and traveling to as many places as possible.